Tanto na região de Apodi, como de Upanema (as duas regiões tem quase 50 mil habitantes), existe um movimento para que o uso destas águas, ao menos na agricultura, seja na produção agroecológica. Mas o que os agricultores da região e os gestores municipais e também do Governo do Estado dispõe tecnicamente para determinar o limite do que é aceitável ou não ambientalmente falando para o uso dos dois reservatórios na irrigação, abastecimento das cidades e também para projetos de piscicultura?
Para estas dúvidas, grupo de professores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e Universidade Federal do Rio Grande do Norte vão responder cientificamente qual é o melhor uso destes reservatórios. A pesquisa já tem à frente o professor doutor Gustavo Henrique Gonzaga da Silva, da UFERSA, que conta com apoio de outros 13 pesquisadores.
Para fazer o estudo, foi aprovado o projeto intitulado "Determinação da Capacidade Suporte e Zoneamento de Áreas Aquícolas como Base para o Desenvolvimento Sustentável da Piscicultura nos Reservatórios de Santa Cruz e Umari-RN", para financiamento de R$ 290 mil através da Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte (FAPERN), com recursos provenientes da Fundação Estadual de Amparo a Pesquisa e do CNPq.
Segundo o professor, o projeto tem como objetivos principais analisar qualidade da água e a composição e estrutura das comunidades aquáticas (bentos, plâncton, macrófitas, peixes) dos reservatórios de Santa Cruz e Umari, visando compreender o funcionamento destes ecossistemas; subsidiar o desenvolvimento de um sistema compartilhado e participativo para a gestão da atividade de criação de peixes em tanques rede, bem como avaliar a sustentabilidade das atividades de piscicultura em ambos os reservatórios por meio de indicadores ambientais, sociais e econômicos; aplicar e validar modelos matemáticos para determinar a capacidade suporte dos reservatórios do semiárido potiguar no que se refere à criação de tilápias do Nilo.
De acordo com o coordenador, além das informações científicas de alto nível e da aplicação prática dos conhecimentos obtidos para o gerenciamento dos recursos hídricos e da aquicultura em tanques-rede, o projeto poderá contar com a participação de dezenas de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, proporcionando a capacitação de jovens pesquisadores do estado do Rio Grande do Norte.
O professor Gustavo Henrique Gonzaga da Silva destaca que "com base nos resultados desta pesquisa, por meio dos modelos matemáticos e de acordo com legislação ambiental vigente, pretendemos determinar a quantidade de peixes que poderão ser cultivados de forma sustentável nos reservatórios do semiárido potiguar, no intuito de minimizar os impactos ambientais e visando otimizar o aproveitamento dos usos múltiplos destes ambientes aquáticos".
Ainda segundo o professor Gustavo Henrique "o incentivo à criação de tilápia é o foco dos governos estadual e federal no semiárido do estado. Neste contexto, é extremamente importante a utilização de indicadores ambientais, sociais e econômicos para avaliar as atividades de piscicultura em tanques-rede que já estão sendo desenvolvidas em Santa Cruz e Umari e as que pretendem ser implementadas nos próximos anos. O monitoramento físico, químico e biológico destes ambientes aquáticos também é essencial no intuito de compreendermos e preservarmos a diversidade biológica local".
Santa Cruz vai abastecer Alto Oeste e Mossoró
Para a barragem de Umari, em Upanema, que foi inaugurada há mais de dez anos, não existe previsão na Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) de quando a reserva hídrica será aprovada. Quanto à Barragem de Santa Cruz, a SEMARH informa que no próximo mês de março recomeçam as obras de implantação do Sistema Adutor do Alto Oeste.
Além desta adutora, que prevê abastecimento de 26 cidades e 64 comunidades rurais, o SEMARH também prevê a construção de uma adutora para complementar o abastecimento de Mossoró com água da barragem de Santa Cruz. Esta obra, inclusive, já estaria com os recursos assegurados na ordem de R$ 100 milhões no Governo Federal.
O reservatório é administrado atualmente pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), que planeja investir cerca de R$ 300 milhões na instalação de um distrito irrigado na Chapada de Apodi, para ser irrigado a partir da construção de um canal, com água da Barragem de Santa Cruz. Neste caso, os agricultores são contra.
É que o DNOCS quer impor um distrito irrigado parecido com o que foi instalado no Ceará, e que tem sido motivo de vários conflitos nos últimos anos, por usar muito agrotóxico. Os agricultores de Apodi querem que o distrito Irrigado da Chapada produza de forma agroecológica. A questão aguarda decisão da presidente Dilma Rousseff.
Atualmente, o único aproveitamento do reservatório é com alguns poucos viveiros de criação de tilápia. Porém, é intenção do DNOCS ampliar a produção, entretanto, o quanto a barragem comporta de viveiros, se vai abastecer Mossoró, o Alto Oeste e ainda um distrito irrigado com mais de 5 mil hectare, estas serão as respostas da pesquisa liderada pelo professor Gustavo Henrique, que está começando agora e devem ser concluídas em 3 anos.
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